Galiza, hora zero

GALIZA HORA ZERO

O carro oficial do Presidente da Xunta de Galicia avançava a grande velocidade pela Autoestrada do Atlântico, com rumo Norte, para a cidade da Coruña. À esquerda, o sol baixava, e à direita viam-se as primeiras estrelas. Sentado atrás, o presidente Carballo tentava pôr ordem em sua cabeça, antes de chegar à reunião mais importante e inesperada da sua vida.



“Cómo é que se chegou a isto?”, pensava. Os últimos anos no Reino de Espanha foram caóticos: a grave crise económica fez abalar o sistema político. O desemprego, a corrupção, a queda da produção e de crescimento, o colapso financeiro... levaram milhões de pessoas à desesperação, e o velho sistema não foi capaz de dar soluções. Apenas poucos anos atrás tudo semelhava perfeito e estável. O Reino era uma monarquia parlamentarista, onde dois partidos principais se alternavam no poder: a Federação Socialista (progressistas) e a Acção Popular (conservadores). O próprio sistema eleitoral favorecia e reforçava o bipartidarismo do sistema, mantendo fora do poder às opções minoritárias. Os dois grandes partidos controlavam o governo e a maioria dos governos regionais e autárquicos, mas depois de décadas de poder, os dois chegaram a ser oligarquias desconectadas da sociedade, e mais preocupadas dos interesses dos bancos e das elites económicas (das que dependiam para o seu financiamento) que dos cidadãos.

Sim, esse foi o seu maior erro, pensava Carballo. A classe política estava longe do povo. A economia estava afetada por uma forte corrupção corporativa, permitida pelos governantes, e por graves ineficiências provocadas pelos políticos, que esbanjavam grandes quantidades em obras públicas desnecessárias e mal planificadas (como o objectivo de ganhar eleições), em corrupção e fisiologismo junto com algumas grandes empresas, ou simplesmente em sustentar uma casta de clientes políticos que chegava a afogar as arcas públicas. Ele sempre o tinha denunciado... especialmente quando os culpáveis eram os do partido contrário. Mas no seu partido também se davam casos, mais dos que ele queria ver.



Por um tempo, numa época de prosperidade económica, o sistema aguentou. Mas quando a economia entrou em crise, a cleptocracia que se desenvolvera no pais ficou nua. Perante os problemas financeiros causados pela avareza e a incompetência dos bancos, os governos decidiram ajudá-los aplicando uma política de austeridade e cortes no estado do bem-estar, subas de impostos, eliminação de serviços sociais... que mantiveram intactos os privilégios da oligarquia política e financeira e estavam focados a salvar àqueles mesmos bancos, políticos e empresários culpáveis da crise.



Os protestos populares cresceram, a tensão política aumentou, os confrontos entre os partidos e os diferentes governos (central e regionais) pioraram. O governo central começou uma deriva autoritária e prácticamente ditatorial: repressão policial, restrição de direitos, suspensão de governos autárquicos e regionais, ilegalização de organizações populares...




Finalmente, a panela de pressão na que o Reino se convertera rebentou. Nem Carballo nem ninguém sabe se o que está a acontecer é uma revolução, um golpe de estado, uma guerra civil... agora todo é confusão e é difícil saber como foi que aconteceu e quem foi que começou.





Grandes greves gerais, passeatas de protesto, demonstrações contra a corrupção do sistema, polícias à porrada, gases lacrimogêneos, tanques nas ruas, disparos, feridos, mortos, revoltas de grupos armados, sublevações de militares, sublevações de outros militares contra os militares anteriores, saqueios, assembleias de populares, autarcas em rebelião, perda de legitimidade do poder, governantes fugindo de helicóptero desde o tecto do palácio...







Essa foi a última imagem que Carballo viu pela TV antes de subir ao carro.

“E que posso fazer eu?”, pensava Carballo, olhando para a paisagem que corria ante ele, “O qué vai fazer a Galiza?” A Galiza era uma região periférica e longínqua, historicamente esquecida, longe da capital e das intrigas do poder. Era também uma nação sem estado próprio, com a sua língua e a sua cultura, e que desde há uns anos tinha à fim um pequeno governo regional autónomo, a “Xunta de Galicia”, com a sua assembleia, o “Parlamento de Galicia”.



Na época de prosperidade que houve antes da crise, a Galiza não se beneficiou tanto como outras regiões do Reino e sempre foi uma das regiões “pobres”... mas a vantagem disto foi que quando começou a crise o impacto não foi assim tão forte, e aliás, os galegos são um povo mais acalmado. Quando a crise começou, era presidente da Xunta Alberto Otero, da Acção Popular. Quando o Governo Central, também da AP, começou com a sua política antissocial e repressiva, Otero apoiou-o, lembrava Carballo, pois a crise era o pretexto ideal para aplicar as duras políticas neoliberais que a AP sempre quissera aplicar. Além disso, AP era um partido centralista que nunca acreditou na autonomia regional e Carballo opinava que no fundo os seus líderes desapreçavam a cultura e a língua galega, apesar de que muitos dos membros do partido não compartilhavam essas opiniões. Mas Otero e a AP perderam popularidade, e quando faz um ano chegaram as eleições, perderam o governo regional.

Foi na altura em que Carballo chegou a Presidente da Xunta de Galicia: ele dirigia um governo tripartito, formado pela Federação Socialista (o seu partido) e dois partidos galeguistas, a esquerdista Alternativa por Galiza e o Centro Democrata Galeguista. Este governo estava oposto às políticas do Governo Central da AP, e tratou de compensá-las desde as suas esferas de competência: o governo autónomo que Carballo presidia era responsável por vários serviços sociais, como a educação, a saúde pública, e de outras competências como a proteção do ambiente, as obras públicas e transportes interiores da região e outras actividades de governo. Mas o Governo Central mantinha o controlo sobre a maioria da política económica (impostos, moeda, sistema bancário, relações de trabalho e comércio...), a segurança interior e exterior (polícia, justiça, forças armadas), relações exteriores, defesa...



O confronto entre os governos era inevitável. Para submeter este governo regional “rebelde”, o Governo Central, na sua deriva autoritária, decidiu suspender a maior parte das suas atribuições e passar a dirigi-las diretamente. Mas Carballo tinha-se negado a aceitar essa intromissão ilegítima e tinha levado o tema ao Tribunal Constitucional do Reino. E essa era a situação até faz poucos dias: conflito competencial aberto entre a Xunta e o Governo Central do Reino, a decidir nos mais altos tribunais.

Mas neste momento o Tribunal Constitucional, e sobre todo o Governo Central do Reino, têm outras coisas mais importantes e urgentes das que se preocuparem. O que antes era o Reino da Espanha é agora um “estado falido”, sem governo e sem seguridade, dividido em “taifas” dominadas por senhores da guerra ou em terras sem lei estilo “Far West”. O Reino sumiu-se no caos e a anarquia, enquanto na remota e tranquila Galiza ninguém sabe quem é que manda agora.

As comunicações com o Reino estão interrompidas, e as últimas notícias diziam que o Governo Central caíra, que os Reis fugiram, que o exército se dividira e se sublevara e que tudo estava em caos e revolução. Na Galiza a situação é mais estável, embora muito agitada, também com greves e protestos sociais contra o governo. Sem direção desde a capital do Reino, os galegos terão que arranjar a vida sozinhos e manter a estabilidade, evitando o contágio. Se calhar o Reino de Espanha é restabelecido, ou se calhar o caos e a guerra civil se estendem a ela, ou se calhar é invadida e anexada por qualquer uma das facções nas que se dividiu o Reino, ou se calhar se converte numa nova nação soberana...



Nisto estava a pensar o Presidente da Xunta de Galicia, Xosé Lois Carballo, enquanto o carro oficial entrava na Coruña, depois de percorrer escassos 50 quilómetros desde Santiago de Compostela. A viagem terminava na Delegação do Governo Central do Reino na Galiza. Lá estava a aguardar o Delegado, para uma reunião de urgência combinada mal uma hora antes.

OOC: Bem eu não tinha em mente um cenário tão catastrofista para o meu país, mas eu cá me arranjo, preciso é de um tempinho para pensar em algo..

Ah e já agora faço-te um pedido, prefiro que uses o termo "Reino dos Godos" ou "Spaniae" em vez de "Espanha", só para não haver confusões com o país real.

ooc: bolas, já tinha escrito algo sobre a história

ooc: se quiseres eu posso ser a "tua Espanha", mas está descansado que não irei fazer o meu RP todo a tentar reintegrar-te no Reino, se quiseres depois deste RP da tua independência e estabilização o assunto morre e fica por aqui. Até isso acontecer dou-te completa liberdade criativa.

Preciso é de saber se queres mesmo continuar com uma "Espanha fictícia" ou não, para decidir o que se passa no meu país agora.

OOC: Gostava de intervir na política galega do lado Democrata, mas com aquele toque Neo-Setembrista de "Democracia Musculada", sem pudor nenhum de recorrer ao Exército desde que seja para defender a "Sacro-Santa Liberdade"

By the way gostava que os Reis exilados, caso o Roko o permitisse, ficassem exilados no Estoril em Portugal. Para todos os efeitos as monarquias sempre se deram bem, e Portugal não tem grande instabilidade política, tirando rixas de rua e episódios de desobediência civil... E certamente que os Reis de Espanha não são alvo de ataques garantidamente, os alvos são os Neo-Setembristas

Portugal escreveu:OOC: Gostava de intervir na política galega do lado Democrata, mas com aquele toque Neo-Setembrista de "Democracia Musculada", sem pudor nenhum de recorrer ao Exército desde que seja para defender a "Sacro-Santa Liberdade"

By the way gostava que os Reis exilados, caso o Roko o permitisse, ficassem exilados no Estoril em Portugal. Para todos os efeitos as monarquias sempre se deram bem, e Portugal não tem grande instabilidade política, tirando rixas de rua e episódios de desobediência civil... E certamente que os Reis de Espanha não são alvo de ataques garantidamente, os alvos são os Neo-Setembristas

OOC: Isso tinha sido giro, mas ele decidiu que a Espanha fosse algo fictício e separado do meu país :p

OOC: numa primeira fase vou tratar de asentar as coisas, e uma vez definidos os bandos e condições comezará o espectáculo a sério, no que terão oportunidades para intervir. Aliás, tenho duas semanas de muito trabalho por diante e agora não posso fazer muito, mas logo há-se ver.

Na sala de reuniões da Delegação do Governo Central já mal se via, por causa da fumaça do tabaco. Fazia anos que fumar em edifícios oficiais estava proibido, mas nesta situação para muitos era uma necessidade para reduzir a sua tensão nervosa y todos tinham outras coisas nas que pensar e pelas que discutir.



Elías Aldán, o Delegado do Governo do Reino na Galiza, não parava de olhar quase compulsivamente o telemóvel que tinha na mão. Tinha outros tres sobre a mesa, mas ningúm estava a soar, por mais que ele olhasse para eles como perguntando-lhes se tinham novidades. A voz do Presidente da Xunta sacou-o dos seus pensamentos:

- Então, quantos homens há disponíveis?

O Presidente Carballo não deixava de dar golpes com os dedos na mesa enquanto aguardava resposta. Contudo, agora estava um bocado mais tranquilo que quando baixou do carro: antes de sair de Compostela algúm dos seus conselheiros lhe disse que não fosse ter com o Delegado, que aquela reunião era uma armadilha, que o Delegado havia declarar estado de sítio e que o havia arrestar...

- Quase 6.000 Guardias Civís e uns 4.000 Polícias Nacionais em teoría, mas temos que comprobar quantos estão em missões fóra da Galiza, pois muitos anti-motim foram enviados à capital do Reino, pelas revoltas... se calhar temos 8 ou 9.000 agentes. Acho que não deveria haver problema para manter a ordem pública, enquanto não aparecer uma "guerrilha" qualquer. Isso é o que me preocupa: as actividades de grupos subversivos, independentistas de extrema esquerda, anarquistas e tal, aumentaram muito os últimos meses e estão a causar problemas. É possível que tenhamos que utilizar o exército.

- Não sei se isso não havia ser pior. Pôr os tanques na rúa havia alterar aínda mais ao pessoal. Há muito discurso revolucionário no ar... - dicía Carballo. Ele conhecia a situação: entre os seus aliados parlamentares nacionalistas havia muitos que estavam realmente excitados pela situação. Muitos falavam que chegara a hora da emancipação da Galiza, que era o momento de que a nação galega proclamasse a sua independência e comezasse a andar como estado soberano...

E o problema era que o Delegado, o homem que tinha diante dele, era do outro bando. Elías Aldán fora nomeado pelo governo central da AP, da dereita anti-nacionalista, e antes tinha sido conselheiro com Alberto Otero, o que agora era chefe da oposição no Parlamento Galego. E tinha a polícia, a Guardia Civil e o Exército. Qualquer coisa que se fizesse tinha que fazer-se com eles. Carballo tinha medo de que os seus aliados nacionalistas dessem um paso errado, os da AP respondessem com os méios que tinha Aldán e o país se sumisse na anarquia ou na guerra civil.

Os da AP eram também mesmo tortos, às vezes. Continuamente atacavam aos nacionalistas dizindo que tinham ligações com grupos terroristas, e a ele próprio também o atacavam, por governar aliado com os nacionalistas. Estes "terroristas" apenas eram uma banda minúscula de putos exaltados, que aprenderam na net a fazer bombas com uma panela e que andavam a fazer o parvo, atacando bancos y pequenos edifícios oficiais pouco protegidos. As suas ligações com os nacionalistas eram que começaram militando em organizações nacionalistas juvenís e que acavaram sendo expulsos por extremistas, por palermas ou pelas duas coisas. Eram poucos, apenas tinham apoiantes e ainda não mataram ninguém, mas podiam ser perigosos se espalhavam uma imagem de desordem e anarquia no país.

- Olhe, Aldán, o mais importante neste momento é transmitir uma imagem de normalidade, e que os cidadãos saibam que na Galiza o estado não caeu, que há governo, que há organização. Qualquer imagem que sugira caos só vai piorar as coisas: se nos vem dando voltas como frangos sem cabeça, estamos perdidos: aparecerão por todas partes grupos rebeldes, bandas armadas e "soviets" e isto já não terá solução.

- Se calhar o melhor vai ser aparecermos na televisão... mas nem sei se tudos vão aceitar o que decidamos cá - respondeu Aldán

- Tem dúvidas de alguém? - perguntou Carballo - De alguém dos seus, quero dizer. Os militares...

- Não se preocupe, enquanto eu estiver cá, nem os militares, nem os policiais vão dar problemas: tenho asegurada a lealtade de todos os chefes. Mas já sabe cómo é que estão as coisas: as greves, os distúrbios...



"Nisso eu tenho vantagem", pensou Carballo, mas sem dizer nada. A revolução que havia era contra o Governo Central, o governo de Aldán, mas não contra o seu. Carballo tinha bem mais popularidade e tinha manifestado uma forte oposição às políticas do Governo Central. Além disso, Carballo tinha sido eleito mal um ano atrás, e o governo da AP, o que nomeara Aldán, tinha sido eleito tres anos atrás: a maioria eleitoral que sustentava a Carballo era mais "fresca", e o Governo Central tinha perdido quase todo o apoio nas sondagens. Se calhar Aldán tinha o poder e a lei do seu lado, mas era ele, Carballo, o que tinha mais legitimidade. Carballo lembrava as aulas da universidade, a diferença entre "potestas" e "auctoritas"...

- Pensa que isso poderá ser controlado? - perguntou Aldán

- Sinceramente, se sou eu o que apareço perante o pessoal, as coisas irão melhor... ou não piorarão. Não o tome mal, amigo Aldán, mas você é o representante desse governo contra o que as massas se estão a levantar. Se aparece você na televisão, dizendo que toma o mando da situação e tal, vai ter mais revoltas nas ruas. Mas se eu me ponho à frente acho que a maioria vão acalmar.

- Não sei se isso vai ser muito legal... - duvidava Aldán

- Acho que as leis não nos dizem nada - respondeu Carballo, condescendente - No carro estive a repassar a Constituição do Reino e o Estatuto de Autonomia, e nenhum diz o qué fazer se o Governo Central e as Cortes do Reino sumem, sem mais, como está a acontecer. Mas o governo autónomo e o Parlamento Galego ainda estão cá e são neste momento o mais semelhante a uma autoridade legítima que temos. Devemos oferecer seguridade e unidade.

- Isto é um bocado como a situação da Guerra Peninsular, faz doiscentos anos - disse Aldán, depois de um momento de silêncio - O Real Governo caíra ante os invasores, el-Rei estava cativo e por todo o Reino se formaram "juntas" que asumiram a controlo e dirigiram a luta - o assunto era "recente", pois nestes últimos anos se tinha celebrado o bicentenário daquilo e era o tema de moda em palestras, exposições e livros de história - Acho que temos que constituir uma "junta regente do Reino da Galiza" ou qualquer coisa do género.

- Concordo, devemos fazer um governo de concentração ou uma coisa assim - respondeu Carballo - E o que fôr, tem que ser com nós todos: se você toma o mando sozinho, existe o perigo de que não o respeitem; se o faço eu, a minha legitimidade pode ser desafiada...

- Então, há que se reunir com mais pessoas - Aldán semelhou ter recuperado as forças, depois de um momento de abatimento - Os líderes dos partidos do Parlamento, os alcaldes [OOC: presidentes da câmara] das cidades... temos que telefona-los.

- E também temos que redigir uma declaração oficial, o antes possível.

- Vou pedir que nos subam mais café.

OOC: Esse RP é tão realista, que vejam a última frase: Vou pedir que subam mais café. E de fato é assim, é em mesas em gabinetes com rodadas e mais rodadas de café que as coisas acabam decididas. Digo isso com juízo de causa, trabalho com isso

A situação da Galiza era visto pelas pessoas no sudoeste do país como "uma chatice". A chegada de refugiados ao território Gótico (ooc: estou a assumir que estes existem, se não os houver avisa) era mal aceite pela generalidade da população, apesar de haver uma dualidade de reacções.

Aqueles que procuravam refúgio na Visigothia acabavam por ser bem acolhidos pelas autoridades e mesmo pela população - ainda que descontente - os campos instalados para os receber eram de boa qualidade, era dada relativa liberdade de movimentação às pessoas e grande facilidade de comunicação com o exterior, nomeadamente telefones e até internet (!).
O problema é que apenas uma pequena parte da fronteira ocidental da Galiza é com esta região, a maior parte dela está junta à Ostrogothia, e aqui as condições eram quase diametralmente opostas..os campos quase se assemelham a campos de concentração, as pessoas são isoladas do mundo e muito poucos fundos públicos são usados para ajudar esta gente..a única liberdade que têm é de voltar para trás..

Depois de horas de nervos, de telefonemas, de reuniões urgentes, de grande consumo de cafeína e de moito suar naquelas calores de Maio, as autoridades galegas chegaram a um acordo sobre o que fazer. Havia muita diferença ideológica entre o Presidente da Xunta e o Delegado do Governo Central, entre os partidos do Parlamento Galego, e muitos pontos de dessacordo, mas o perigo da situação fez com que os dessacordos fossem postos a um lado e as discussões sobre alguns pormenores fossem adiadas.

Aliás, as notícias vindas do Sul foram o catalisador definitivo para se porem de acordo: a Guardia Civil de Monterrei informava da incursão de um grupo armado português vindo de Chaves, sem poder concretar se eram militares ou milicianos desses grupos septembristas ou como raio lá se chamem. Por todo o país circulavam rumores de uma iminente invasão portuguesa... mas de algum jeito isto quase foi uma ajuda para restabelecer a acalma: a maioria da população decidiu colocar-se do lado do governo, o que fôr, contra a ameaça da anarquia e da invasão estrangeira. Dias depois, o Presidente Carballo havia comentar com algum colaborador próximo "sem aquela circular do governo português nunca teriamos controlado a situação" .

Assim, finalmente os méios de comunicação transmitiram o comunicado oficial que a população da Galiza e os governos do mundo aguardavam:

XUNTA DE GALICIA
DELEGACIÓN EN GALICIA DO GOBERNO CENTRAL DO REINO

Ante a delicada situação actual e as perturbações causadas pelos últimos acontecimentos produzidos no Reino, as autoridades legalmente constituídas da Galiza acordaram tomar as medidas necessárias para assegurar a segurança, a ordem e o normal desenvolvimento da vida diária no nosso território.

Por tanto, pelos poderes que lhes outorgam a legalidade constituída e a legitimidade democrática, a Xunta de Galicia, como máxima representação do autogoverno dos galegos, e a Delegação do Governo do Reino na Galiza, como máxima autoridade do Governo Central no território galego, em ausência das máximas autoridades do Reino, acordaram tomar as seguintes medidas:

PRIMEIRO: fica constituido o CONSELHO GERAL DA GALIZA, como máxima autoridade governativa no território galego, com carácter provisório enquanto não fôr restituida a autoridade do Reino ou a legitimidade democrática que a vier a substituir.

SEGUNDO: o Conselho Geral asume todos os poderes executivos do Governo Central do Reino e da Xunta no território da Galiza.

TERCEIRO: o Conselho Geral será um órgão colegiado, formado pelas seguintes autoridades:

• O Presidente da Xunta da Galiza, que será o seu presidente
  
  
• O Delegado do Governo Central na Galiza, que será o seu vicepresidente
  
  
• O Presidente do Parlamento da Galiza
  
  
• O General-Governador Militar das Reais Forças Armadas na região da Galiza
  
  
• O Juíz Presidente do Tribunal Superior de Justiça da Galiza

QUARTO: a Xunta de Galicia e as suas Conselherias e serviços continuarão nas suas funções, nos assuntos da sua competência, baixo a direcção do seu Presidente, que conferirá as suas decissões com o resto do Conselho Geral.

QUINTO: a Delegação do Governo Central na Galiza, e as demais instituições e delegações ministeriais dependentes do Governo Central, continuarão nas suas funções, nos assuntos da sua competência, baixo a direcção do Delegado do Governo, que conferirá as suas decissões com o resto do Conselho Geral.

SEXTO: todas as forças policiais e militares baseadas na Galiza ficam baixo o comando supremo do Conselho Geral.

SÉTIMO: o Conselho Geral assume todos os poderes e atribuições extraordinárias declaradas pelo decreto vigente de estado de excepção, declarado pelo Governo Central antes da sua queda.

OITAVO: o Parlamento da Galiza elaborará as disposições legais necessárias para o desenvolvimento das funções do Conselho Geral.

NOVENO: os municípios, diputações provinciais e demais órgãos das administrações públicas, assim como os cidadãos e sociedades e associações privadas, colaborarão com o Conselho Geral na forma que éste lhes solicite.

DÉCIMO: com funções consultivas, informativas e assessoras, cria-se junto do Conselho Geral uma Junta Consultiva, formada por:

• Os porta-vozes dos 7 partidos políticos representados no Parlamento da Galiza
  
  
• Os presidentes das 4 Deputações Provinciais
  
  
• Os alcaldes das 7 cidades da Galiza
  
  
• O presidente da Associação Galega de Municípios

Esta Junta Consultiva será informada e consultada regularmente sobre as decissões do Conselho Geral.

UNDÉCIMO: o Conselho Geral exercerá as suas funções segundo o estabelecido neste decreto por um periodo inicial de 6 meses. Finalizado esse tempo, o Conselho Geral renderá contas perante as Cortes do Reino se estas se encontrarem restabelecidas, ou caso contrário, perante o Parlamento da Galiza e os membros das Cortes do Reino representantes da Galiza. Estes, como depositários da soberania do povo, decidirão segundo as circunstâncias entre as seguintes opções:

• A prórroga do mandato do Conselho por periodos de 3 meses, com os mesmos membros ou outros que escolha, ou
  
  
• A sua substituição por outro órgão que julguem mais adequado ás circunstâncias, ou
  
  
• A sua dissolução e restabelecemento da ordem constitucional anterior.

O Conselho Geral espera, com a colaboração de toda Galiza, restabelecer do jeito mais rápido a tranquilidade pública, e assegurar a normalidade democrática, a ordem e a justiça, assim que passem estes momentos de perturbação. Pedimos calma e confiança, e contamos com a cooperação de todos e todas para superarmos estas difíceis circunstâncias.

Xa que logo, todos xuntos conseguirémolo.

Em Santiago de Compostela, a 20 de Maio de 2012

O Presidente da Xunta da Galiza e Presidente do Conselho Geral da Galiza,
Xosé Lois Carballo

O Delegado do Governo Central do Reino na Galiza e Vicepresidente do Conselho Geral da Galiza,
Elías Aldán

- Bem, as coisas já estão arranjadas - dizia um dos Conselheiros da Xunta depois da emissão da proclamação.

- Arranjadas? Não, isto apenas começou, meu! - respondeu outro.

O Reino dos Godos, representados pelo Primeiro-Ministro Ruderico Ermingues, felicita a Xunta da Galiza e o seu povo na decisão tomada, que certamente irá trazer estabilidade não só aos próprios Galegos, como também aos dois países vizinhos. O Governo do Reino aproveita este momento histórico também para aproximar as relações entre ambos os países, propondo um estabelecimento de embaixadas e consulados em ambos os países e oferecendo ajuda de qualquer tipo à Galiza, neste momento que, apesar de histórico, não será certamente sem dificuldades tanto do foro social como economico-financeiro.

Informamos também que os refugiados Galegos actualmente em território Gótico estão de boa saúde, e que serão transportados de volta para as suas terras assim que eles queiram, ou quando o Conselho Geral da Galiza achar apropriado.

Com os melhores cumprimentos,

Ruderico Ermingues, Primeiro-Ministro.

Isto era tudo muito bonito, mas a verdade é que se calhar os refugiados na Ostrogothia não iam regressar a casa satisfeitos com o tratamento recebido neste lado da fronteira..

Em Piratininga, o Departamento de Estudos do "Mundo Latino" da Chancelaria respiravam-se aliviados, o primeiro-ministro Faria Lima junto com o chanceler Matarazzo outorgou uma carta de reconhecimento da Galiza como um estado-nacional independente e soberano e também como um estado sucessor de Espanha. O Reino Unido de Piratininga solicita então ao presidente Xosé Luis Carballo para indicar ao mais breve possível um embaixador para ocupar a cátedra de ministro plenipotenciário da embaixada do defunto Reino de España.

Enquanto a algazarra em Espanha continuava... O Regimento de Infantaria Nº 15 invadia território espanhol e ocupava Olivença, sem resistência nenhuma por parte da população...
O mesmo ocorreu alguns quilómetros de distância, com o Batalhão Nacional de Reguengos de Monserraz a ocupar Villanueva del Fresno.

Ambos os casos são muito sui generis. O Regimento de Infantaria Nº 15, na sua origem é o 2º Regimento de Infantaria de Olivença, que com a ocupação espanhola teve de assentar praça em Estremoz. Foi enviado para Olivença por ordem do governo central em Lisboa. Como "ajuste de contas" centenário com a defunta Espanha. Não se espera resposta por parte dos Galegos, visto que o episódio decorreu na Extremadura Espanhola.

O caso de Villanueva del Fresno, deve-se a intentos patrióticos do executivo municipal de Reguengos. Além disso o objectivo é precisamente o de aumentar a área do concelho. Sendo portanto uma iniciativa completamente à margem do governo central, apenas pensada pelo município em causa. Reveste-se com um toque de ilegalidade, mas como não há meios de coacção contra o Municipio, nem muito menos retaliação espanhola, o governo central até agradece...


RI 15 acampado nas planícies mesmo à saída de Olivença. É notória a calmaria dos militares que não dispararam nem um tiro. É uma ocupação pacifica, e até de certa forma desejada pelas populações locais que vêm nos portugueses um garante de paz e estabilidade.


O Batalhão Nacional de Reguengos de Monsarraz já se comporta de forma desorganizada, eufórica em Villanueva del Fresno. Os guardas nacionais demonstram-se fleumáticos e adoptam uma postura de "libertadores" perante os espanhóis.

A opinião pública, estes dias:

Na Galiza, as notícias vindas de Olivença e Villanueva del Fresno, sobre as anexações do exército português, caem mesmo mal. A opinião pública galega, maioritariamente, considera aquilo como uma agressão injustificada, ainda que por distintos motivos.

Os sectores de opinião mais "espanholistas" e conservadores em geral consideram que é um ataque à soberania de outra nação, e que de não estar Espanha na situação de colapso na que está, seria motivo de guerra. Os demais sectores da opinião pública, nomeadamente os progressistas, estão desgostados com o desrespeito mostrado por Portugal pelas populações das dois vilas, que foram ocupados e anexados pela força, sem serem consultados, de um jeito colonialista e antidemocrático. Apenas un muito minoritário sector "lusista" defende as acções de Portugal, baseándo-se na reclamação histórica de Portugal sobre aquelas terras e assinalando que possívelmente aquelas populações estarão mais seguras baixo a soberania portuguesa do que na actual anarquia espanhola.

Mas além das considerações sobre os dereitos legítimos ou não desta ocupação (pois os galegos têm coisas mais urgentes e importantes nas que pensar, na sua actual situação), a maior preocupação que se extende pela Galiza, como consequencia das acções portuguesas, é o temor de que Portugal decida invadir Galiza também. Uma vez acalmada a tensão interna dos primeiros días do "caos" e restabelecida a ordem e a autoridade pelo Conselho Geral, na opinião pública começa a extender-se uma incipiente paranóia anti-portuguesa causada pelas notícias de Olivença, apesar de que Portugal tenha reconhecido ao Conselho da Galiza desde o começo. Contudo, os problemas sociais e económicos internos aínda são a principal preocupação e "o de Olivença" não ocupa muito as conversas; mas se "o de Olivença" se convertesse em "o da raia" ou "o do Minho", as coisas mudariam, e muito.

A reunião semanal do Conselho Geral da Galiza, a passada tarde:



O Presidente Carballo chega à reunião semanal do Conselho Geral. Como se pode ver na imagem, a situação no país aínda é agitada, com muita presença de pessoas protestando pela situação social e económica e muita polícia nas ruas.

"O de Olivença" chega também ao Conselho. Inicialmente o Presidente Xosé Lois Carballo não mostra interesse, pois o que mais lhe preocupa nesta altura é a recuperação da economia e do emprego, que mesmo metem medo: com o desemprego em 24% (segundo o sistema de contagem NStracker) e um PIB per capita de mal 2.000 euros, Galiza tem a pior economia da região, e se o Conselho não consegue melhorar a situação nos próximos meses, o clima social pode piorar e a precária estabilidade que o Conselho restaurou pode ir para o ar. Segundo ele, Portugal não semelha ter interesse pela Galiza desde que se estabeleceu o Conselho, pois a sua preocupação era ter estabilidade na fronteira (coisa que não acontecia em Olivença). Aliás, lembra aos seus colegas o reconhecimento oficial expresado pelo governo portugués, que convidou os galegos a estabelecer uma embaixada e ofereceu ajuda económica e militar. Por tanto a prioridade, segundo Carballo, deve ser a estabilização e a recuperação.

Mas nem todos no Conselho Geral opinam o mesmo. O Vicepresidente Elías Aldán (anterior Delegado do Governo do Reino e responsável pelos assuntos de seguridade) mostra uma viva preocupação pelos movimentos de Portugal e está realmente irado pela anexação da Olivença. Estas opiniões são compartilhadas pelo Governador Militar da Região da Galiza (e também membro do Conselho), o General Fernández, que pede um reforçamento da vigilância nas fronteiras e uma maior dotação militar, pois a Galiza tem poucas forças, e parte delas estão perdidas no "caos espanhol", a onde foram deslocadas no começo da crise. Aldán e Fernández até propõem a criação de um corpo de milícias para fazer frente a uma possível invassão.

Outros membros do Conselho, com o comunicado oficial português de reconhecimento ao Conselho na mão, consideram que é prioritário estabelecer uma canle diplomática com Lisboa o antes possível, para assegurar a boa vontade portuguesa e obter a possível ajuda, que sempre é necessária. Aliás, Carballo convence Aldán e Fernández com argumentos puramente prácticos: os contactos diplomáticos permitirão conhecer melhor o que querem os potugueses, e caso tenham más intenções, permitirão ganhar tempo. Assim que, finalmente, o Conselho acorda abrir uma embaixada em Portugal o antes possível. Contudo, a proposição de reforçar as defesas e organizar umas milícias continua sobre a mesa.

ooc: é difícil fazer rp com um território que na prática não existe.

A situação do caos e pobreza na Galiza era vista como mel no Reino dos Godos, para a rica nobreza dona da indústria e construção da Ostrogothia e Frankia era uma oportunidade de ouro para ganhar uns ducados extra, a ideia geral destes homens era começar a investir na Galiza o mais depressa possível.

Com um país pobre e sem indústria, mas com enorme potencial de crescimento, se o Reino conseguisse liderar esse investimento, não só eles próprios como o Reino poderia ficar mais rico.
A desconfiança Galega derivada da ocupação Portuguesa era vista como um autêntico bónus..os Godos são o único país que até agora os reconheceu que não se mostrou hostil nem jingoísta, sendo ainda por cima vizinho.

O Governo Paulista, enviou o economista Delfim Neto, vice-ministro do Ministério do Comércio e da Indústria e Conselheiro Especial da Secretaria de Estado da Fazenda e Planejamento ao presidente Carballo, disponibilizando o Banco do Estado de São Paulo (Banespa) para caso a Galiza precise de empréstimos, sob uma taxa de juros simbólica de 0,5% a.m. (ao mês) pois é de interesse do Governo e da Coroa Paulista a estabilidade social, econômica e política na região e nos países considerados amigos.

Enquanto em Olivença a nova ordem portuguesa prosseguia na maior calmaria... E a bandeira nacional esvoaçava no alto da torre do Castelo. A Infantaria Nº15 ocupa as suas novas instalações em Olivença. Em breve se chamará outro regimento de Infantaria para assentar praça em Olivença. Regressavam os regimentos ao fim de quase mais de duzentos anos ao seu local de origem.

Em Villanueva del Fresno, agora Vila Nova de Portugal, tornou-se a mais recente freguesia de Reguengos de Monsarraz, já aprovada pelo Soberano Congresso.

Quando a notícia chega ao local, clima mais uma vez foi de excessos cometidos pela Guarda Nacional, que se dedicou a uma noite de devassa e alcoolismo. Quem facturou valente, foram os donos dos estabelecimentos e ainda mais as "prostitutas de fronteira", fenómeno muito típico da zona.


Guarda Nacional numa festa de deboche, onde o alcool, manuseamento inconsciente de armas e danças populares histéricas reinaram pela noite dentro ao ritmo de uma concertina velha e de palmas...